sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Como nasce um fenômeno

Na vanguardista região do Nordeste brasileiro, tradicionais nativos fazem um video ilustrativo de uma despretensiosa música blockbuster típica do mainstream local.


A surpreendente repercussão imediata no youtube levou rivais no acirrado ramo do entretenimento da região a produzirem uma versão expandida. A corrida era por ser o hit do carnaval.
Primeiro, o vídeo-resposta com alto apelo, digamos, erótico/putero



Depois, a versão 'preguiçosa'


Mas quem chegou na frente foram os grandes barões da panela cultural



E nasce o novo hit do verão!


Pedro Grossi

terça-feira, 9 de novembro de 2010

The Good, the Bad, the Ugly and the Other Guy

Um gole de Mumm Cordon Rouge para quem acertar meu favorito

Quatro rostos, uma corrida e um título, o mais disputado em 60 anos de Fórmula 1. Pilotos e equipes desembarcam para o desfecho da temporada em Abu Dabi, já no próximo domingo, sob um cenário de possibilidades e contas. Com a pontuação inflacionada em 2010, nunca a calculadora foi um utensílio tão decisivo para acompanhar automobilismo.

Resumo da ópera: Fernando Alonso, líder, feliz, olho gordo, precisa chegar em segundo para erguer seu terceiro caneco mundial.

Para Mark Webber, o patinho feio, segundo na tabela, é vencer ou vencer, ou quem sabe ainda, na pior das hipóteses, vencer. Isso, claro, sem se esquecer da torcida pelo mau agouro do espanhol.

Pedra na sapatilha do australiano, Vettel, companheiro de equipe e reizinho da Red Bull, finge que nem é com ele. Justifica-se. A vitória em Interlagos renovou e muito suas chances. Sonha terminar em primeiro com Fernando em quinto. Assim, não correria o risco de ter que ajudar alguém além de si próprio.

Já para Hamilton a parada é das brabas. Precisa ganhar e torcer contra os três. Recolhido no boxes da Mclaren, já deve estar rezando para todos os santos da Bahia, da Inglaterra e até para os de Kimi Raikonnen, os quais sentiu na pele e choro ao jogar no lixo o título de 2007.

Independentemente de papos de ética, moral e civismo, o fato é que a escuderia dos energéticos (no Brasil mencionada nominalmente pela TV, não por siglas, sei lá a razão) pode ter pagado caro pela decisão de não inverter as posições na pista paulistana.

Alonso, que só, vê tudo de camarote. Nos Emirados Árabes, deve criar asas e fazer o possível e o impossível para se infiltrar entre os carros da melhor equipe do ano, ainda mais velozes neste final de temporada.

A história de Mark Webber na F1 é bacana, de persistência, de postura. E se tudo der certo, pode fazer o que poucos conseguiram. Atropelar a preferência do time e sagrar-se campeão.

Realizando o mesmo, na história recente, lembro apenas de Piquet, na Williams, em 87; e de certa forma Prost, em 89, quando torcia feio o nariz ante à fraternidade entre Senna e os japoneses da Honda.

“Marketing Webber”, alcunha recorrente nas transmissões de não muitos anos atrás, agora conta com torcida declarada de locutor e comentarista. Tudo por conta do bobo, chato, feio e cara-de-mamão Alonso, que ousou ser rápido demais, e acabou virando bode expiatório para o desempenho pífio de Felipe Massa no ano.

Certas árias não mudam jamais.


Leonardo Rodrigues

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Exit trough the gift shop

Is Banksy’s Mr. Brainwash an Art-World Borat?

O que é arte? Exatamente por não ter resposta, a pergunta remete àquela intangível zona da dúvida, algo entre o consciente e o subconsciente, onde mora a verdade. Arte é a verdade, mas como a verdade não existe, a arte é a busca. Arte é o percurso. Tem valor apenas por suscitar a dúvida. A arte é uma grande piada. A vida é uma grande piada.

Banksy é um artista de rua. Banksy pode não existir. Por suscitar a dúvida e trazer à tona a pergunta, o que é arte?, Banksy é um artista. O mérito da arte está em direcionar o olhar. Para o que é bonito, para o que é certo (será que é mesmo certo? a arte pergunta), para o que nós somos. A arte acontece no olhar de quem vê, porque enxergamos um pouco da verdade.

Banksy faz intervenções em espaços públicos, às vezes em obras de arte. Recria e desfigura todo o significado para dizer que não é o significado o que importa, mas fazer com que você perceba que ali havia um significado, que não te deixava ver o que realmente era importante. Se fosse uma figura pública, Banksy desviaria o olhar para si. Ele viraria o objeto em exposição. Cheio de significados. Por isso Banksy não existe. E mesmo que exista, não faz diferença. Não é ele o que importa.

Para atingir o objetivo máximo de sua arte de perda de significados, Banksy poderia (e digo poderia, porque não se sabe se ele fez. Viu como se suscita a dúvida?) realizar o máximo da auto-ironia e da auto quebra de significação. Dirigir o olhar para todo o seu trabalho e mostrar: estão vendo isso? Isso não significa nada! Foi o que ele fez (ou não) no documentário Exit through a gift shop. E fez isso com um filme em que expõe uma fraude do mundo das artes. Conta a história de um lunático viciado em gravar a vida em vídeo, que, num conveniente acaso, vira o cultuado Mr. Brainwash, um artista de Los Angeles que se torna celebridade instantânea.

Se de fato o filme é a história real de alguém que expôs o que as pessoas pensam sobre a arte, para quem vê, ele cumpre o seu papel de romper com os significados do objeto. Mas, se o filme é um mockumentary estilo Borat, ele cria uma nova obra de intervenção no espaço público, fazendo as pessoas perceberem que aquele espaço na verdade não representa nada. Uma arte dentro da arte (Um palíndromo, Pedrinho?). O mais próximo que podemos chegar da verdade.

Trailer Exit through the gift shop

Pedro Grossi

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Inception


É difícil escrever sobre um filme como Inception. Mas é um filme que merece reflexão. Uma daquelas obras que ressoam na cabeça por dias a fio. Se não pela inovação do tema, pela inventividade da narrativa proposta. Se o tema já era assunto de filósofos gregos, a carpintaria do roteiro é algo um tanto inovador. Nem tanto pela construção de personagens, mas mais como comprovação da utilização do apuro técnico em favor da história, algo que Cristopher Nolan já havia conseguido em O cavaleiro das trevas. São ‘efeitos especiais’ carregadosde drama e não de pura nitroglicerina. Uma mistura equilibrada da fórmula de Matrix com elementos de Brilho eterno de uma mente sem lembrança.

Como esse é um espaço pessoal de reflexão e não de compromisso com a informação, não vou me preocupar em destrinchar uma sinopse nem em avaliar o desempenho dos atores. Até porque não tenho conhecimento pra isso e qualquer frase pronta iria necessariamente reduzir e descontextualizar a complexidade da trama, concebida para ser percebida em outro ambiente.

Procurei não ler nada sobre esse filme antes de assisti-lo, para que meu juízo não fosse contaminado e para que eu tivesse algumas surpresas – como ver Michael Kaine em cena (denovo com coadjuvante de luxo em um filme de Nolan, como em Batman), que eu não sabia integrar o elenco do filme. Ao contrário das arquiteturas projetadas para os sonhos, o roteiro não faz voltas, nem tem ‘pontos de paradoxo’. É uma história que sempre vai um nível além, desafiando a inteligência do espectador e dando aquele constante ar de incerteza. Sem algunsvícios de filmes do gênero. É a sensação agradável do desconhecido, cada vez mais rara nocinema.

Sem a pretensão de montar nenhum quebra-cabeça e nem de discutir se ‘era ou não tudoum sonho’ – fato que considero irrelevante – é possível achar elementos para gastar um bomtempo refletindo sobre a história. Questionar a realidade e a natureza dos sonhos é algo quetodos nós, em maior ou menor grau, fazemos em algum momento da vida. Mas não é sempre que a questão vem embalada de forma tão saborosa.


Pedro Grossi

terça-feira, 25 de maio de 2010

Last words about Lost




Já nos primeiros episódios era possível perceber a premissa genial. Um bando de personagens cai em uma ilha – até então – deserta e são colocados em confronto com seus demônios pessoais trazidos na bagagem. Os episódios foram revelando personagens complexos que, expostos a situações extremas, eram obrigados a mostrar o melhor e o pior da própria natureza. A Ilha, nessa altura ela mesma um personagem, dava a oportunidade do recomeço. Uma metáfora perfeita da redenção.

A genialidade não estava na rapidez dos diálogos, nos maneirismos estéticos da edição ou na atuação precisa dos atores. O “pulo do gato” era a ousadia narrativa. Flashbacks da vida pregressa dos náufragos (?) eram costurados brilhantemente com a realidade apresentada na Ilha. Era alta costura. E alta literatura. Foi ficando cada vez mais claro que estávamos testemunhando algo revolucionário.

Nem era preciso terminar cada episódio com alguma revelação/mistério sobre a natureza daquela ilha. Aquilo importava somente para dar alguma carga dramática à história dos personagens. A coisa ganhou corpo e o programa foi se tornando um belo romance de ficção científica. O mecanismo dos flashbacks foi usado como uma ferramenta precisa para desconstrução de conceitos e desmistificações. Não havia maniqueísmo do bem contra o mau os dos injustiçados versus opressores. Não era uma saga de libertação, mas de auto-conhecimento. Apesar de tudo, não era um programa sobre mistérios, era um programa sobre pessoas.

Nas temporadas seguintes Lost saiu da perigosa zona de conforto para mais uma vez se reinventar. Além dos eficientes flashbacks, começaram a ser usados os flashfowards. E depois não eram acontecimentos do passado ou do futuro determinando o presente, mas era o próprio fim do conceito de tempo. A capacidade de se reestruturar narrativamente a cada nova temporada talvez tenha afastado alguns telespectadores que não estiveram dispostos a entrar na viagem, que definitivamente não traria desfechos fáceis ou faria concessões estéticas. Mesmo que aqui ou ali a gente pudesse ver alguns excessos, era louvável testemunhar que um produto da grande indústria cultural, com alto investimento, tivesse conseguido autonomia de voo suficiente para contar sua história da forma menos convencional possível.

No episódio final, a confirmação de que o que realmente importava era a história daqueles personagens. Foi bonito ver os arcos dramáticos se concluindo com coerência. Foi emocionante olhar pra trás e ver que tudo estava se concluindo. Foi triste constatar que era o fim, mas foi boa a sensação de que valeu a pena ter investido tanto tempo nessa história. E embora esperasse saber o que tivesse acontecido com Walt ou ter uma ideia mais clara de quem construiu a estátua de Tuaret, admito resignadamente que as perguntas valem mais que algumas respostas. Muitas vezes a beleza está no véu erótico da dúvida e não na pornografia escancarada da verdade imposta. É interessante que o público tenha autonomia para amarrar algumas pontas da história. Porque se existe uma moral é a de que a redenção está no livre arbítrio e no poder das escolhas e não em soluções cartesianas e matemáticas.


Pedro Grossi

sexta-feira, 5 de março de 2010

Verissimo, Ronaldinho e as velas

Luis Fernando Verissimo, após a derrota do Brasil para o México por 4 a 3, na final da Copa das Confederações de 99.

Mas pode somar 11.


Duas Velas

Como se não bastassem o Brasil, a Humanidade e a próstata, comecei a me preocupar com Vanderlei Luxemburgo. Está certo que era difícil resistir à oba-obaização do novo Ronaldinho depois daquele gol, mas colocá-lo em campo contra o México a dez minutos do final - e justamente quando o que o time menos precisava era alguém desobrigado de marcar, para dar espetáculo – mostra uma perigosa tendência do Luxemburgo a querer agradar a todo mundo.

Ronaldinho é o tipo do jogador que todo treinador quer ter no seu time, mas nenhum treinador quer ter no seu banco. No banco o jogador espetacular se transforma num foco de insatisfação e cobrança. Se o treinador não escala, é burro e se só bota em campo durante o jogo, é incoerente. Resistir aos pedidos da torcida e da imprensa, que sempre preferem o sensacional ao sensato, ou confundem o sensacional com o sensato, pode ser uma prova de caráter mas também um indício de vocação suicida num treinador. Não resistir e escalar sempre o preferido do momento é um sinal de fraqueza que também leva a carreiras a curtas. Mas pior é fazer o que o Luxemburgo fez, quando substituiu um centroavante por um zagueiro, para segurar o México, e como consolo botou o Ronaldinho das manchetes para fazer nada em campo. Acendeu uma vela ao diabo e outra ao Galvão Bueno.

Nada melhor para promover o futebol do que o jogador-exceção, com sua promessa sempre latente de mágica, do nunca visto. É o que leva aos estádios até a legendária grã-fina do Nelson Rodrigues, a que queria saber quem era a bola. Mas é preciso que o oba-oba contagiante não contagie uma pessoa: o técnico da seleção. Este deve ser uma espécie de Savonarola, fanático das suas próprias convicções e inimigo das frivolidades deste mundo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Que venham os próximos 10

A década acabou e os dedos coçam pra escrever sentenças definitivas que em pouco tempo vão soar como grandes tolices. A falta de personalidade dos últimos dez anos é tanta que até hoje não sei como chamar o período: década de 00’s? Década de 2000? Enfim, no ócio nem tão criativo de um plantão compulsório de fim de ano lanço minhas bobagens definitivistas.

Musicalmente acho que os anos 00’s (pelo menos na escrita, essa terminologia soa menos estranha) foram uma incógnita kitsch. A cada período de três anos uma década voltou em revival. Da breguice dos anos 80 à crueza do rock setentista, passando pelo soul/jazz dos anos 60. No Brasil, mais do mesmo. Nada de muito original a não ser sangue novo em algumas vertentes do jazz/samba nacional e uma ou outra banda independente com um pouco mais de talento e criatividade. No maisntream, o Emocore chegou e já foi – sem deixar saudades – deixando como legado um grupelho de bandas quase irrelevantes e punhados de adolescentes com cabelo de chapinha e ar tristonho. A morte anunciada dos intermediadores da produção musical (gravadoras) e do suporte físico das músicas (CDs) fez voltar à moda as grandes turnês de encher estádios. Mas um desses megahows acabou de véspera. O maior artista pop de todos os tempos, quem praticamente cunhou o conceito de megashow, como espetáculo visual e sonoro, morreu antes da última performance.

No cinema, a década das trilogias e septo (octo)logias consolidou a febre das adaptações. Grandes histórias infanto-juvenis de fantasia se tornaram tecnicamente viáveis e comercialmente irresistíveis. Bruxos, elfos e vampiros renderam filmes que arrebataram plateias e garantiram lucros astronômicos aos estúdios, que chegaram a estar temerosos com a popularização dos DVDs, hometeathers e torrents. (Bons) Roteiros originais se tornaram raridade e a não-valorização dessa profissão rendeu uma greve da categoria. Atrasos nos lançamentos e milhões de dólares de prejuízos. A Indústria não demorou a se recuperar. Pela primeira vez na história, o mercado americano de cinema bateu, em 2009, a barreira dos US$ 10 bi. No apagar das luzes de 00’s, uma tecnologia aperfeiçoada ao ponto de garantir a hegemonia do cinema sobre as mídias ‘caseiras’: o 3D, que pode fazer com que James Cameron conquiste o recorde de bilheteria de... James Cameron.

Enquanto a TV aberta se rendeu aos apelos fáceis dos reality shows, a TV fechada deu um grande salto de qualidade. Os sitcoms deram lugar a séries caras e extremamente bem produzidas. Sopranos, Damages, House e Lost decretaram uma nova era de excelência na TV americana, quando prognósticos errados desaconselhavam grandes investimentos em dramaturgia, já que a fidelidade aos canais de TV tendia – e tende - a diminuir.

Na esfera digamos ‘social’, o mundo se voltou para a virtualidade. As redes sociais determinaram uma nova maneira de interação. Muitos contatos, poucos amigos. A informação foi horizontalizada e fragmentada ao máximo de 160 caracteres. Tudo virou pílula. Estímulo. O lugar em que tudo pode ser dito anonimamente. E impunemente. Uma faca com vários ‘legumes’. Mas são apenas breves ilações anti-tédio. Até a década de 10 (?) tudo isso já será página virada. Ou arquivo morto, como queiram.


Pedro Grossi